Uma página para Christiano D´Carlos

Uma página para Christiano D´Carlos

O pai deve sentir orgulho ao ver o filho superá-lo na mesma aptidão profissional. D’Carlos pai é estilista consagrado, “lenda viva” na arte da alfaitaria, como já disseram. Seu filho Christiano “mamou” na escola dele, mas libertou-se para vôo criativo, perfeccionista, na atividade de camisas sob medida, sem descuidar em ser competente e discreto consultor de moda masculina.

A sinergia, ao se desprender, é a glória. Nota-se quando o pai fica meioputo ao perceber que o filho não mais o copia.

Sou cliente e amigo do D’Carlos há cinquenta anos. Posso afirmar que o mestre da tesoura não foi feito para principiantes. Conviver com ele requer ver além das aparências, saber traduzí-lo e fazer concessões, assim como os amigos fazem com a gente. Ame-o ou deixe-o. Digo isto para diferenciar Christiano, não apenas como profissional, mas como pessoa na lida diária.

Parece um lorde inglês, com simplicidade. Personalidade afável, elegante, solícito, estudioso. Sabe prestar atenção nas coisas. De onde você menos espera, faz conotação para divulgar seu produto diferenciado.

Faz uma pá de tempo, escrevi duas crônicas: “D’CARLOS ESTILISTA 8 ESTRELAS” e “BIPLOMADO”. Hoje, ao reler essas crônicas, vejo Christiano no âmago do enfoque. A rigor, esses textos deveriam ser anexados aqui.

Admiro no Christiano o seu senso de estética, mola propulsora da produtividade e alma do marketing, soma de eficiência e eficácia. Percepção do belo as raias do poético fundamenta a arte. Você compra o que já tem pela estética. Por exemplo, relógio. Christiano sabe que não basta tirar medidas e riscar o molde. Há que sacar o cliente na pinta e, na camisa, dar corpo ao corpo. Incorporar espírito da “embalagem”. Nada a ver com a classificação “P”, “M”, “G”. Talvez seja por isso que a camiseta comum, de algodão, ao moldar naturalmente, mantém o charme.

Se tão jovem Christiano já atingiu tal escalão, imagino o que o tempo não fará por ele. Se posso lhe dar conselho em prol de seu dom criativo, que não se detenha exclusivamente na técnica industrial. Desfrute de certa preguiça. Não fique fechado no círculo das confecções. O salva-vidas que vai à praia em dia de folga não tem imaginação. Recorra a música, a poesia, aos espetáculos e leituras edificantes, aos papos informais. Dê espaço à fantasia e principalmente ao bom humor. Sair da rotina com a companheira é uma boa pedida. Fazer com que a pessoa amada seja feliz em si mesma, conforme seus caprichos e mazelas e não impondo os próprios desejos. Vale pros dois lados.

Peralá! Estou me desviando? O propósito é enaltecer a bossa do filho do mestre D’Carlos. Tecer considerações que não fujam às característica inatas do arteiro e artista. Brincar um pouco. Faça, então, bom Christiano, do seu talento, reflexos para que esta humanidade amedrontada, mísera, insegura, vacilante, angustiada, volte à graça e à liberdade de ir e vir, sem perder o gosto de sorrir.

AGUINALDO LOYO BECHELLI

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